Bem que alguma coisa nesta história, a começar do nome do seu
principal personagem, fazia lembrar uma tragédia grega: a vida dupla de
um senador que se notabilizou pelo combate implacável à corrupção, ao
mesmo tempo em que se aliava a um dos mais notórios contraventores do
País.
Mais do que pelo escândalo político, fiquei impressionado com o drama
humano nele embutido. Como pode alguém conviver por tanto tempo com
dois papéis tão antagônicos na mesma pessoa?
Pensando nisso, resolvi dar um Google na manhã deste domingo e
descobri uma história bem similar protagonizada por outro Demóstenes
mais de 2.000 anos atrás. Onde? Exatamente, na Grécia antiga.
O grande orador Demóstenes nasceu em Atenas 384 anos antes de Cristo.
Ficou órfão de pai aos sete anos e teve a herança roubada por seus
tutores.
Demóstenes Torres tem 51 anos e nasceu em Anicuns, no interior de
Goiás. Formado em direito, foi procurador-geral e secretário de
Segurança Pública, antes de ser eleito senador pela primeira vez, em
2002, pelo DEM.
Era o líder do partido e presidente da Comissão de Constituição e
Justiça do Senado quando, de uma semana para outra, o mundo caiu sobre a
sua cabeça ao se tornarem públicas as suas ligações com o "empresário
de jogos" Carlinhos Cachoeira, passando de acusador a acusado.
O Demóstenes grego dedicou sua vida à defesa de Atenas ameaçada pelos
macedônios, chegando a participar de batalhas, e construiu uma carreira
de herói — até o dia em que foi condenado por ter se vendido a um
ministro de Alexandre, o Grande.
Aos 66 anos, o orador Demóstenes fugiu para o templo de Poseidon, na ilha de Calauria, onde se suicidou com veneno.
Na última semana, o Supremo Tribunal Federal abriu um processo
criminal contra o Demóstenes goiano e, na próxima terça-feira, o DEM
decide sobre a sua expulsão do partido.
"Eu não sou mais o Demóstenes", disse um dos Demóstenes a seus
colegas no Senado, segundo a revista "Veja", antes de se retirar de cena
pela garagem do prédio.
Fecham-se as cortinas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário