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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A maior roubalheira da história do país

Por Jorge Furtado, em seu blog:

Terminei de ler o extraordinário trabalho jornalístico de Amaury Ribeiro Jr., “A Privataria Tucana”, (Geração Editorial), o livro mais importante do ano. Para quem acompanha a vida política do país através de alguns blogs e da revista Carta Capital, não há grandes novidades além dos documentos que comprovam o que já se sabia: a privatização no Brasil, comandada pelo governo tucano, foi a maior roubalheira da história da república.

O grande mérito do livro de Amaury é a síntese que faz da rapinagem, e a base factual de suas afirmações, amparadas em documentos, todos públicos. Como bom jornalista, Amaury economiza nos adjetivos e esbanja conhecimento sobre o seu tema: o mundo dos crimes financeiros.

A reportagem de Amaury esclarece em detalhes como os protagonistas da privataria tucana enriqueceram saqueando o país. De um lado, no governo, vendendo o patrimônio público a preço de banana. Do outro, no mercado, comprando as empresas e garantindo vida mansa aos netos. Entre as duas pontas, os lavadores de dinheiro, suas conexões com a mídia e com o mundo político.

Os personagens principais da maracutaia, fartamente documentada, são gente do alto tucanato: Ricardo Sérgio de Oliveira (senhor dos caminhos das offshores caribenhas, usadas pela turma para esquentar o dinheiro), Gregório Marin Preciado (sócio de José Serra), Alexandre Bourgeois (genro de José Serra), a filha de Serra, Verônica (cuja offshore caribenha, em sociedade com Verônica Dantas, lavou pelo menos 5 milhões de dólares), o próprio José Serra e o indefectível Daniel Dantas. Mas o livro tem também informações comprometedoras sobre o comportamento de petistas (Ruy Falcão e Antonio Palocci), sobre Ricardo Teixeira e sobre vários jornalistas.

A quadrilha de privatas tucanos movimentou cerca de 2,5 bilhões de dólares, há propinas comprovadas de 20 milhões de dólares, dinheiro que não cabe em malas ou cuecas. O livro revela também o indiciamento de Verônica Serra por quebra de sigilo de 60 milhões de brasileiros e traz provas documentais de sua sociedade com Verônica Dantas, irmã de Daniel Dantas, do Banco Opportunity, numa offshore caribenha.

Alguns destaques do livro:

- As imagens do Citco Building, em Tortola, Ilhas Virgens britânicas, gavetas recheadas de empresas offshore, "a grande lavanderia", pág. 43.

- Sobre a pechincha da venda da Vale, na pág. 70.

- Sobre o grande sucesso "No limite da irresponsabilidade", na voz de Ricardo Sérgio., pág. 73.

- Sobre o MTB Bank e sua turma de correntistas, empresários, traficantes e políticos de várias tendências, e a pizza gigante de dois sabores (meio petista, meio tucana) da CPI do Banestado, pág. 75.

- Como a privatização tucana fez o governo (com o seu, meu dinheiro), pagar aos compradores do patrimônio público, pág.171.

- Como Daniel Dantas (de olho no fundo Previ, comandado pelo governo) usou sua imprensa para ameaçar José Serra, pág. 183.

- A divertida sopa-de-nomes das empresas offshore, massarocas intencionais para despistar a polícia do dinheiro do crime, pág. 188.

- Os grandes personagens do sub-mundo da política, arapongas que trabalham a quem pague mais, pág. 245.

- Um perfeito resumo do que realmente aconteceu na noite dos aloprados, no Hotel Ibis, em São Paulo, pág. 282.

- Um retrato completo do modus operandi da mídia pró-serra na eleição de 2010, a partir da pág. 295.

- Outro resumo perfeito, do caso Lunus, quando a arapongagem serrista detonou a candidatura de Roseana Sarney, pág. 314.

- Sobre para-jornalistas que acabam entregando suas fontes e sobre fontes que confiam em para-jornalistas, pág. 325.

O índice remissivo e a quantidade de dados que o livro de Amaury apresenta já o tornaria uma peça obrigatória na biblioteca de quem pretende entender o Brasil. Mas "A Privataria Tucana" também lança um constrangedor holofote sobre a grande imprensa brasileira, gritamente pró-serra, que é cúmplice, ao menos por omissão, da roubalheira que tornou o país mais pobre e alguns ricos ainda mais ricos.

Imagine você o que esta imprensa – que gasta dúzias de manchetes e longos programas de debate na televisão numa tapioca de 8 reais ou em calúnias proferidas por criminosos conhecidos - diria se um filho de Lula, Dilma ou qualquer petista fosse réu em processo criminal de quebra de sigilo bancário. Segundo o livro de Amaury (e os documentos que ele traz) a filha de José Serra é ré em processo criminal por quebra de sigilo bancário (p. 278).

O ensurdecedor silêncio dos grandes jornais e programas jornalísticos sobre o livro “A privataria tucana” é um daqueles momentos que nos faz sentir vergonha pelo outro. A imprensa, que não perde a chance - com razão - de exigir liberdade para informar, emudece quando a verdade contraria seus interesses empresariais e/ou o bom humor de seus grandes anunciantes. Onde estão as manchetes escandalosas, as charges de humor duvidoso, os editoriais inflamados sobre a moralidade pública? Afinal, cadê o moralista que estava aqui?

"Privataria": O escândalo do século

Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:

O livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr, intitulado A privataria tucana, publicado pela Geração Editorial na coleção “História Agora”, está produzindo um estranho fenômeno na imprensa brasileira: provoca um dos mais intensos debates nas redes sociais, mobilizando um número espantoso de jornalistas, e não parece sensibilizar a chamada grande imprensa.

O autor promete, na capa, entregar os documentos sobre o que chama de “o maior assalto ao patrimônio público brasileiro”. Anuncia ainda relatar “a fantástica viagem das fortunas tucanas até o paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas”. E promete revelar a história “de como o PT sabotou o PT na campanha de Dilma Rousseff”.

Ex-repórter do Globo, originalmente dedicado ao tema dos direitos humanos, Ribeiro Jr. ganhou notoriedade no ano passado ao ser acusado de violar o sigilo da comunicação de personagens da política ao investigar as fonte de um suposto esquema de espionagem que teria como alvo o então governador mineiro Aécio Neves. Trabalhava, então, no jornal Estado de Minas, que apoiava claramente as pretensões de Neves de vir a disputar a candidatura do PSDB à Presidência da República em 2010.

Os bastidores dessa história apontam para o ex-governador paulista José Serra como suposto mandante da espionagem contra Aécio Neves, seu adversário até o último momento na disputa interna para decidir quem enfrentaria Dilma Rousseff nas urnas.

“Outro ninho”

Informações que transitaram pelas redes sociais no domingo (11/12) dão conta de que Serra tentou comprar todo o estoque de A privataria tucana colocado à venda na Livraria Cultura, em São Paulo, e que teria disparado telefonemas para as redações das principais empresas de comunicação do país.

Intervindo em um grupo de conversações formado basicamente por jornalistas, o editor Luiz Fernando Emediato, sócio da Geração Editorial, afirmou que foram vendidos 15 mil exemplares em apenas um dia, no lançamento ocorrido na sexta-feira (9). Outros 15 mil exemplares estavam a caminho, impressos em plantão especial para serem entregues às livrarias na segunda, dia 12, juntamente com o lançamento da versão digital.

Aos seus amigos do PSDB, Emediato recomendou cautela e a leitura cuidadosa da obra, afirmando que o trabalho de Amaury Ribeiro Jr. não é “dossiê de aloprado, não é vingança, não é denúncia vazia, não é sensacionalismo. É jornalismo”.

O editor indicou ainda aos leitores que procurassem informações no blog do deputado Brizola Neto (PDT-RJ), no qual, segundo ele, estariam as pistas de “outro ninho offshore na rua Bernardino de Campos, no bairro do Paraíso, em São Paulo. A investigação agora chega na família do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Vamos ver onde isso vai parar”, concluiu.

O Titanic da política

A julgar pelo volume e a densidade das denúncias, pode-se afirmar que, sendo verdadeira a história contada por Amaury Ribeiro Jr, trata-se do mais espetacular trabalho de investigação jornalística produzido no Brasil nas últimas décadas. Foram doze anos de apuração e depurações. A se confirmar a autenticidade dos documentos apresentados, pode-se apostar nessa como a obra de uma vida. A hipótese de completa insanidade do autor e do editor seria a única possibilidade de se tratar de uma falsificação.

Confirmado seu conteúdo, o livro representa o epitáfio na carreira política do ex-governador José Serra e um desafio para o futuro de seus aliados até agora incondicionais na chamada grande imprensa.

O editor garante que são 334 páginas de teor explosivo, escancarando o que teria sido a articulação de uma quadrilha altamente especializada em torno do processo das privatizações levadas a efeito durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Os documentos envolvem o banqueiro Daniel Dantas, a família de José Serra e alguns personagens de sua confiança.

Não apenas pelo que contém, mas também pelos movimentos iniciais que lhe deram origem, o livro representa uma fratura sem remédio na cúpula do PSDB e deve causar mudanças profundas no jogo político-partidário.

“Privataria”, a expressão tomada emprestada do termo que o colunista Elio Gaspari costuma aplicar para os chamados malfeitos nas operações de venda do patrimônio público, ganha agora um sentido muito mais claro – e chocante.

Os sites dos principais jornais do país praticamente ignoraram o assunto. Mas portais importantes como o Terra Magazine entrevistaram o autor. O tema é capa da revista Carta Capital, e não há como os jornais considerados de circulação nacional deixarem a história na gaveta. Mesmo que seus editores demonstrem eventuais falhas na apuração de Amaury Ribeiro Jr., o fenômeno da mobilização nas redes sociais exige um posicionamento das principais redações.

Se a carreira de Serra parece ter se chocado contra o iceberg do jornalismo investigativo, a imprensa precisa correr imediatamente para um bote salva-vidas. Ou vai afundar junto com ele.

Aécio e Serra se bicam e PSDB patina

Por Altamiro Borges

Saiu hoje na coluna de Mônica Bergamo, na Folha:

“O clima entre José Serra e Aécio Neves, do PSDB, que andava ruim há muito tempo, nos últimos dias ficou péssimo... A pesquisa Datafolha que mostrou no domingo Serra com rejeição de 35% entre os paulistanos jogou balde de gelo em publicitários historicamente ligados ao PSDB que tentavam convencer o partido de que ele seria o melhor candidato”.

Estragos disputa nacional

Realmente, a pesquisa Datafolha (ou DataSerra, devido aos vínculos da Folha com o grão-tucano) não foi nada boa para o PSDB – nacional e paulista. Para a direção nacional da sigla, que tenta escantear o ex-governador, ela criou obstáculos às manobras para forçá-lo a disputar a prefeitura paulistana, afastando-o da briga pela escolha do próximo presidenciável do partido.

Aécio Neves, concorrente de Serra, era o principal envolvido nesta operação. Na semana passada, na Bahia, ele só faltou implorar para que o paulista deixe de pentelhá-lo. Depois de bajulá-lo, num típico jogo de cena, o mineiro apelou: “Não podemos forçar ninguém a ser aquilo que não quer, mas, no fundo, há uma esperança de que ele seja o candidato à prefeitura de São Paulo”.

Guerra fratricida no PSDB

A pesquisa Datafolha, ao evidenciar a enorme rejeição do grão-tucano entre os eleitores paulistanos, pode levar o vacilante Serra a abandonar de vez a possibilidade de concorrer à prefeitura – que nunca foi o seu desejo. Com isso, ele retomaria seu projeto de disputar a presidência da República em 2014, o que acirraria ainda mais os ânimos, já bem esgarçados, no interior do PSDB.

Essa disputa pode ser fratricida, com penas voando para todos os lados – inclusive com novos rachas e deserções no partido. Na eleição de 2010, os dois quase já se mataram. Alguns detalhes dessa guerra – como o uso de arapongas ou artigo maldoso “Pó pára, Aécio”, no Estadão, insinuando que o mineiro não tem problemas só com bafômetros – estão no livro de Amaury Ribeiro.

Sinal de alerta em São Paulo

Além de embaralhar a disputa nacional no PSDB, a pesquisa Datafolha também representou um sinal de alerta aos tucanos de São Paulo. Eles hegemonizam o estado há quase 20 anos e, desde 2004, mandam na capital paulista. Serra virou prefeito naquele ano e, depois, abandonou o cargo, rasgando um compromisso assumido por escrito, para disputar o governo estadual.

Ele deixou no cargo um fiel aliado, o vice Gilberto Kassab. Reeleito em 2008, o ex-demo nunca escondeu sua dívida com Serra. Numa entrevista à tevê, este chegou a brincar que “durmo de paletó” para atender ao governador, um conhecido notívago. Por cálculo político, o demo Kassab abandonou o DEM e fundou o PSD. Mesmo assim, ele garante que nunca abandonará o grão-tucano.

Rejeição recorde de Serra

A pesquisa Datafolha mostra, porém, que nem Serra, nem Kassab e nem os outros quatro pré-candidatos do PSDB estão com essa bola toda. Apesar do chamado “recall” e da forte exposição midiática, ela revela que o ex-governador bateu recorde de rejeição – 35%. Segundo os especialistas no assunto, um índice tão alto de rejeição inviabiliza, já na largada, uma candidatura competitiva.

Para complicar ainda mais a vida dos tucanos e dos seus aliados, a pesquisa também confirma o desgaste do prefeito Kassab. Ele aparece com o pior índice de aprovação da sua gestão (apenas 20%) e 49% dos entrevistados afirmam que não votarão, de jeito nenhum, num candidato indicado por ele a sua sucessão.

Fortaleza tucana pode ruir

Fora do ninho tucano-kassabista, a pesquisa é altamente positiva. 48% dos paulistanos entrevistados afirmam que votarão num candidato à prefeitura indicado pelo ex-presidente Lula. 33% dizem que seguirão as indicações da presidenta Dilma. Dos cinco cenários da pesquisa, Celso Russomanno (PRB) e Netinho de Paula (PCdoB) surgem em primeiro lugar em quatro, tecnicamente empatados. Serra só lidera em um cenário, mas com elevado índice de rejeição.

A própria Folha tucana, constrangida, foi forçada a reconhecer as dificuldades da direita em São Paulo. “A pesquisa Datafolha traz uma série de más notícias combinadas para PSDB e PSD, que venceram as duas últimas eleições para a Prefeitura de São Paulo”. O cenário é de desalento e desespero. A eleição ainda está muito longe, mas se não houver graves erros de cálculo pode representar mais um duro golpe nas forças conservadoras – em São Paulo e no Brasil.